36 – Johannes W. Luyten

Johannes W. Luyten

Johannes W. Luyten

INTRODUÇÃO

  • O holandês Johannes Luyten e o amigo alemão Frei Cosme Ballmes, estão envoltos por diversas particularidades ou combinações, no mínimo curiosas.
  • Entre outras, elas começam por uma vizinhança geográfica, relativamente reduzida, mesmo englobando três países distintos da Europa.

  • LOCALIDADES RELEVANTES:
  • EMMERICH (ALEMANHA): Cidade natal de Frei Cosme. Atualmente, ali reside seu sobrinho Bernd Ballmes (Amigo n.º 17).
  • BRUNSSUM (HOLANDA): Localidade onde nasceu Johannes Luyten.
  • GARNSTOCK (BÉLGICA): Lugarejo do Seminário Franciscano em que Frei Cosme estudou, antes de vir para o Brasil. Ali também ficavam os frades, conselheiros da família Luyten.

FAMÍLIA

  • 1943: Johannes Luyten nasce em Brunssum – Holanda.
  • A mãe Gertrud, alemã, vinha de família católica, muito religiosa e tinha uma irmã freira e um irmão que quase se ordenou padre. O pai, Peter, era holandês.
  • Na região de Brunssum a influência alemã estava fortemente enraizada e o idioma germânico era usado tanto quanto o flamengo.
  • Com numerosa família de 8 filhos para criar, os pais de Johannes viviam aflitos, em meio às agruras do pós-guerra, fenômeno generalizado na Europa. No caso da Holanda, especificamente nas redondezas de Brunssum, ao lado dos temores provocados pela carestia geral, juntava-se a apavorante possibilidade do avanço comunista. O mais aflitivo, porém, principalmente para mamãe Gertrud, era que seus seis meninos tivessem como destino, as insalubres e perigosas minas de carvão da região.
  • Foi assim que, em 1950, Dona Gertrud, durante uma peregrinação religiosa a Roma, devidamente orientada pelo irmão que quase chegara a ser sacerdote, procurou o aconselhamento dos frades franciscanos a respeito de suas ideias de emigrar. No caso, os freis que acolheram suas inquietudes, eram oriundos de Garnstock, na vizinha Bélgica.
  Emmerich am Rhein Osten - Attribution: © Raimond Spekking / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)   Innenstadt von Brunssum, Park, Vijverpark - Attribution: © Blonder1984 / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)   Kloster Garnstock - Attribution: © Frinck51 / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)  

EMIGRAÇÃO

  • Os planos de imigrar para o Brasil, desenvolvidos em conjunto com os frades de Garnstock, recomendavam que a família se fixasse em Recife.
    Assim foi feito e ali chegaram no final de Outubro de 1952. O casal Luyten e seus oito filhos, o mais velho com 17 anos e o caçula 4, foram devidamente acolhidos pelos franciscanos.
  • A estadia na capital pernambucana, porém, foi breve, pois o lugar não parecia atender adequadamente os requisitos almejados pelos Luyten. E a viagem continuou rumo ao sul.

O AMIGO DE UM DIA

Johannes, então com 9 anos, relembra:

Viajamos para Santos pelo vapor Itaberá da Cia Costeira. Posso dizer que o nosso primeiro “tour turístico” foi visitar as igrejas e conventos de Recife, Maceió, Aracajú, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. Ainda hoje, quando viajo pelo Brasil, tenho o costume de visitar igrejas ou conventos e fazer uma oração de agradecimento.

Na chegada a Santos, recomendados por Frei Menander Rutten, fomos recebidos por Frei Cosme que nos acolheu, oferecendo um bom almoço, no Convento de Santo Antônio do Valongo.

Com 9 anos de idade eu era muito curioso e indagador. Recordo que nessa minha breve estada no Valongo, quando observava a quantidade e variedade de frutas que estavam em cima da mesa, Frei Cosme disse, em alemão:

A gente recebe muito mais do que se consegue retribuir…

Durante o resto do dia, meus pais conversaram muito com Frei Cosme, sobre um tema já tratado com outros franciscanos.
O assunto recorrente era sobre os benefícios de alguns dos filhos irem para o Seminário. Seria uma boa oportunidade de estudo, educação, disciplina e também aliviaria algumas bocas a cuidar, numa família composta de 10 pessoas.

Com certeza, essas conversas com o frei alemão do Valongo, naquele importante dia, lá pelo início de dezembro de 1952, influenciaram a ida do meu irmão Joseph e a minha, para o Seminário Frei Galvão, em Guaratinguetá.


GUARATINGUETÁ

Ao final daquele memorável dia com Frei Cosme, no Valongo, a família Luyten pegou o trem, na estação bem ao lado da igreja e viajou para São Paulo. Foi inesquecível a viagem até a Estação da Luz: a natureza, a Serra do Mar, a cidade de São Paulo…

E Johannes retoma a narrativa:

Na chegada, Frei Olavo Seifert nos aguardava e acomodou-nos no Convento São Francisco. Ali ficamos por cerca de duas semanas, antes de fixarmos residência na Vila Maria, numa casa alugada, bem ao lado do Rio Tietê.

Pouco tempo depois, Frei Richard, Superior do Convento, conseguiu uma vaga no Seminário de Guará, para meu irmão Joseph de 11 anos que, apenas 2 meses após a chegada ao Brasil se mudou para lá. Foi triste e choroso, pois eu era muito ligado a ele.

Em 1953 visitei meu irmão no seminário e ele me convenceu a ir também. Assim feito, em fevereiro de 1954, estava junto com ele em Guaratinguetá.

Não foi por vocação. Foi a vontade de ficar junto dele, de novas aventuras e também aquele pomar imenso plantado pelos freis alemães me fascinou.

Guaratinguetá 1955: Johannes é o 3.º da esquerda para a direita, na fila superior.
Guaratinguetá 1955:
Johannes é o 3.º da esquerda para a direita, na fila superior.

Minha vida em Guará não foi fácil. Com 10 anos eu já tinha terminado o Primário, mas Frei Caio me rebaixou e colocou no Terceiro Ano. Além disso ainda me reprovou, por meio ponto, em Português. Isso causou um atraso de três anos, na minha vida escolar, apesar das excelentes notas no resto das matérias. Frei Cancio foi outro extremamente severo comigo. Levei muito castigo, cavando, ou retirando terra da futura piscina, além de arrancar milhares de tiriricas do campo de futebol. Não havia boa empatia e eu fazia de tudo para não deixá-lo ganhar nos jogos de bocha e xadrez.

Mas, também fiz boas amizades e destaco Nicanor Santana Rego, descendente de índios Bororos que muito me ensinou a respeito de seus antepassados, inclusive como confeccionar arcos e flechas. Outro amigo é o Estanislau Pereira Serpa que veio de Brazópolis – MG e que visito de tempos em tempos. Também José Ribeiro Maduro, de Itanhandu – MG, colega de turma do mano Joseph, muito visitado por nós, após os tempos do seminário.

Depois da ida de Joseph para Agudos, em 1955, fiquei deprimido e Guará deixou de ser interessante. Frei Cancio, sempre implacável, só foi amenizado pela chegada de Frei Firmino, da Alemanha, que ficou um tempo no seminário fazendo registros fotográficos e organizou uma festa de Natal, inesquecível para mim.

Hoje em dia, quando tiro o pó do tempo das minhas memórias, reconheço que meu período em Guará representou uma época de adaptação ao Brasil. Tive que me entrosar na marra e as coisas eram daquela maneira:

Nenhuma tristeza, nenhuma esperança, tudo que devia acontecer aconteceu.

Atualmente posso me considerar um bom colaborador do SEFRAS, retribuindo parte do que recebi em Guará, de onde saí, logo nos primeiros meses de 1956.

Após a saída ainda fiz algumas visitas esporádicas ao seminário para matar saudades. Fiquei muito amigo do já falecido Frei Geraldo Roderfeld, de quem encomendei vias-sacras e pinturas diversas que acabei doando para amigos. Eu admirava suas obras que retratavam santos com feições severas e não de “beatos”. Bebemos juntos muitas cervejas, enquanto ouvia as histórias do passado dele na Alemanha e como prisioneiro na Rússia. Que Deus o tenha!


OS “HOLANDESES”

No dia 17 de maio de 2013, Johannes Luyten registrou comentário no perfil do Amigo n.º 16 – Oscar Laragnoit Veiga, colega seu e do irmão Joseph, em Guaratinguetá. O breve texto continuou no site, em estado latente, para ressurgir três anos depois, com surpreendentes complementos e explicações.

Sobre os “holandeses” Johannes informa primeiro sobre o irmão, já falecido:

Prof. Dr. Joseph Maria Luyten (✰ 1941 ✞ 2006) - Crédito: Maria Isabel Amphilo
Prof. Dr. Joseph Maria Luyten (✰ 1941 ✞ 2006)
Crédito: Maria Isabel Amphilo
  • Joseph, mal chegado ao Brasil, foi para o Seminário de Guaratinguetá lá estudando de 1953 a 1954. Em Agudos, permaneceu de 1955 a 1957.
  • É considerado, no meio acadêmico brasileiro, como o maior estudioso, pesquisador e divulgador da Literatura de Cordel. Foi também o criador da FOLKMEDIA.
  • Professor, Reitor, Escritor, Crítico de Arte e Humanista.
  • Estudou Administração, Jornalismo e Letras, além de especializações em Literatura Inglesa na USP, Universidade de Michigan e Paris – Sorbonne.
  • No Brasil foi professor na USP, Faculdades Medianeiras, Integradas Alcântara Machado, Ciências e Letras de Santo Amaro, UNIP e Cásper Líbero. É idolatrado por muitos ex-alunos conforme relatos registrados na Internet.
  • Lecionou 12 anos no Japão e foi Reitor da Universidade Teikyo, na Holanda.
  • Ao voltar do Japão, em 1999, a família de Joseph Luyten se instalou em São Vicente – SP.

A respeito de si próprio Johannes complementa que, após sair de Guaratinguetá, continuou os estudos até formar-se em Engenharia Mecânica na FEI. Casou com Anna Elizabeth e tiveram os filhos Maurício, Guilherme e Felipe. Atualmente moram em Santos – SP.

Ressalte-se que Johannes não chegou a ir para Agudos, na década de 1950, acompanhando os passos de seu cultuado irmão.

Acabou fazendo isso, porém, à sua maneira, dentro do possível.

Em janeiro de 2016, foi para Agudos participar do Encontro dos Ex-Seminaristas Franciscanos e, durante as apresentações, na Noite de Talentos, em pleno palco do Salão Nobre do Seminário Santo Antônio, fez comovente depoimento, em homenagem ao querido mano Joseph.

2016: Encontro dos Ex-Seminaristas Franciscanos. Johannes é o 2°, da direita para a esquerda, na fila da frente.
2016: Encontro dos Ex-Seminaristas Franciscanos.
Johannes é o 2°, da direita para a esquerda, na fila da frente.

Uma resposta para “36 – Johannes W. Luyten”

  1. Amigo Johannes
    Entrei em Guará, em 1956 e certamente por lá nos cruzamos, durante seus últimos dias no Seminário Frei Galvão. Ainda não consegui desenterrar alguma lembrança concretamente significativa daquele pequeno período em comum. Quero, no entanto registrar aqui, minha alegria de vê-lo (ou revê-lo) no início deste ano, em Agudos. Esta, com certeza, uma das muito boas recordações do último Encontro e que andará comigo, daqui para a frente.
    Meu abraço caloroso de boas-vindas ao grupo dos Amigos de Frei Cosme.

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