Adelson Cravo Trombino

O Fantasma do Confessionário

1958: Igreja de Santo Antônio do Valongo

Eu tinha de sete para oito anos e, como sempre, acompanhava minha mãe, quando ela ia para o Convento do Valongo.

Dessa vez não era para nenhuma cerimônia religiosa. Íamos para o dia de faxina e também se juntara a nós, uma vizinha, a Dona Maria, parceira de mamãe, naquele puxado trabalho. Ao final as duas dividiam o pagamento que, na época representava importante reforço para o orçamento doméstico.

Pelo meu lado, ao longo do dia, eu dispunha de um montão de tempo, para exercitar a imensa curiosidade infantil, em cada canto ou detalhe daquele grandioso templo.

Entre todos, um misterioso recinto me desafiava de forma especial. E, naquele dia, parecia haver surgido o momento propício para arriscar a aventura. A porta principal da igreja estava apenas entreaberta e a penumbra favorecia meu deslocamento, em direção ao enigmático confessionário que ficava do lado direito de quem entra, mais ou menos na metade da nave. Furtivamente me introduzi nele, sentei e ali fiquei olhando e saciando meu apetite por descobertas em local tão impenetrável.

De repente, percebi o movimento de alguém chegando ao confessionário. Era uma mulher que logo foi dizendo: Padre, quero confessar meus pecados…

Apavorado, num lampejo saí correndo e sorrateiramente sumi do interior da igreja.

Dias depois encontro Frei Cosme e ele, sorrindo, bonachão, divertido me diz com seu sotaque alemão:

– … me contarram que tinha um fantasma, no confessionarrio, no dia da faxina. Você sabe algo sobrre isso?

– Não fui eu, nem sei de nada – respondi apressado e com a sensação de estar confirmando a traquinagem.

Então, num gesto compreensivo, tipicamente seu, Frei Cosme me deu um tapinha atrás da cabeça, completando:

– Se você souberr de alguma coisa, me avise.

– Sim, senhor! – gaguejei, levantando o olhar. Ele me fitava, ainda mantendo aquele mesmo sorriso bondoso, que a todos conquistava.

Adelson Cravo Trombino

Adelson Cravo Trombino

Amigo n.º 26 de Frei Cosme

Uma resposta para “Adelson Cravo Trombino”

  1. Amigão Adelson, agora eu entendo aqueles efeitos na bolinha de tênis de mesa nas manhãs de domingo, o nó no ar que a bolinha executava só podia ser coisa de fantasma. Enfim mistério esclarecido, por tabela. Um abraço amigo e estou feliz com você fazendo parte deste grupo.

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